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Quem vai pagar essa conta?

Do Racismo Fundiário ao Racismo Ambiental a divida só aumenta.

Ao pautarmos o conceito de racismo fundiário ou agrário não devemos limita-lo ao não acesso à terra e território pela população negra, mas inclui-lo como parte da dividia histórica reivindicada pela população negra. Considerando ainda nessa conta o não reconhecimento do trabalho intelectual e técnico do nosso povo, que construiu a agricultura desse país.


Manejando de forma sustentável territórios diversos, em condições adversas e precárias do sistema escravocrata. Seja nas lavouras ou no extrativismo mineral movimentaram as principais economias do período colonial. Sem falar do cultivo e domesticação de espécies alimentares que alimentaram não só os colonizadores europeus, mas toda a sociedade brasileira.


Desta forma, não existe história da Agricultura e Alimentação no Brasil, sem o povo preto. E ainda assim, é a população a ter menos acesso à terra e estar mais exposta a fome na atualidade brasileira.


Ao trazer as denúncia do racismo ambiental não estamos falando somente de como os impactos ambientais recaem de forma desproporcional na população negra, mas sobretudo reconhecendo que o mesmo modelo colonial/capitalista que provocou a escravidão e racismo, explora e destrói desenfreadamente a natureza.


Por outro lado, é fundamental contabilizar o bônus ecológico produzido pelas populações negras no mundo. Povos que se estabeleceram ancestralmente pela Biointeração (conceito cunhado por Nego Bispo), descreve a relação integrada e harmoniosa dos seres humanos com a natureza.


Diante do cenário agravante das mudanças e injustiças climáticas no Brasil e mundo, há uma herança socioambiental preta a ser reconhecida e considerada. Serviços socioambientais que levaram a conservação da biodiversidade dos biomas brasileiros, a exemplo da preservação da vegetação nativa na Amazônia quilombola.


E por isso, não nos cabe uma Ecologia sem luta antirracista, reproduzida majoritamente por uma branquitude que "mata" preto todo dia, enquanto bate palma para o sol, dançando ciranda na chuva.


É urgente pautar reparação histórica ao povo preto para além da garantia de direitos básicos, trata-se de fazer justiça á séculos de violências e apagamento socioambiental, incorporando a reforma agrária e proteção dos territórios quilombolas e negros, como parte integral de uma reparação biocultural.


No Brasil o racismo fundiário e ambiental segue sendo lucrativo e legalizado pelo Estado, mas essa dívida histórica e permanente todo mundo vai pagar.


Por: Fran Paula - quilombola, engenheira agrônoma, pantaneira. Autora do Livro Racismo e Sistemas Agroalimentares, pesquisadora e doutoranda no Programa de Pós Graduação de Ciências Sociais em Agricultura, Desenvolvimento e Sociedades - CPDA/UFRRJ, membra da Aliança Científica Antirracista.


Cáceres, Mato Grosso

03/07/2024

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