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Uma oração ao Pantanal

No último dia 12 de novembro foi celebrado o Dia do Pantanal, e hoje 14 de novembro é o Dia do Rio Paraguai.

Mas o que temos a comemorar em um ano em que o fogo consumiu milhares de hectares da nossa casa? E uma seca como nunca vimos antes. Agonia, tristeza, desespero e lamentos. Um dia de reflexão e de rezar pelo nosso futuro!


Oração a Nossa Senhora do Pantanal (Flávio Ferreira)


Maria, Nossa Senhora, Mãe de todas as águas, Mãe de todas as plantas, Mãe de todos os bichos, Mãe de todas as terras, Mãe da Terra!

Mãe do Menino Jesus, Mãe dos peões, Mães dos canoeiros, Mãe das parteiras, Mãe de todas as mães, Nossa mãe eterna!

A vós rogamos, mãe, olhai pelo nosso imenso Pantanal, protegei-nos, Senhora da Vida.

Não permita que o cruel agronegócio continue explorando o pantaneiro, tocai o coração dos empresários da terra, para que eles se sensibilizem e parem de destruir as nossas matas, já tão frágeis, tão tristes, tão débeis, tão sem vida...

É tão triste de ver, Mãe Divina, quando anoitece, lá pelas 6 horas, quando o sol se deita, e as cigarras começam a cantar (tristemente) - na hora da Ave Maria – dizem as mães pantaneiras, que se ouvem choros vindo das matas, lamentos trazidos pelos ventos, gemidos em formas de uivos, “são as almas das árvores mortas”, dizem elas, “clamando por justiça contra a destruição...”

E ao tocar os pés descalços na terra, Maria Mãe Eterna, o chão treme, parece gritar de dor, “é de tristeza”, rebatem as benzedeiras...

E quando chega o cansado vento sul, ele traz o perfume da hortelã do campo, mas carrega também o cheiro da morte (a inseticida) - profetizam as parteiras – “envenenam as crianças, filhas e filhos das pantaneiras...”

E ainda nesta Hora Sagrada, rogamos, Mãe Santíssima, que proteja nossas nascentes, nossas matas ciliares, nosso solo, nosso ar, nossos peixes, nossos bichos, nossas borboletas, nossos beija-flores...

Oh, Maria, apazigue o coração do empresário genocida do campo, para que ele deixe de usar a droga nos grãos da ração, que modifica a genética, que confronta a lei natural, que obrigam animais a crescerem numa estúpida velocidade, para serem abatidos tão precocemente, e que levam a mesma droga para o organismo de todos nós...

E apesar das justificativas dos empresários da terra, de que a inseticida é necessária na lavoura, “prá saciar a fome no mundo”, bem sabemos, Mãe, que esse discurso sucumbe a qualquer pesquisa séria, é que esses venenos são usados porque são mais baratos, e diminuem o custo da produção, e nós pagamos o preço: da doença, do câncer, da morte lenta...

Protegei-nos, Maria, que esses ricos genocidas parem de contaminar o nosso ar, os nossos lençóis freáticos, os nossos rios, as nossas lagoas; antes, fontes de bênçãos, hoje, armadilhas para os bichos e para o pobre pantaneiro...

Ontem, Maria, o pantaneiro sabia: “é tempo de chuva”, “é friage”, “é enchente” “é vazante”, hoje, é solo esturricado, é terra seca, o que era harmonia da natureza, agora, é cenário assombrado por cadáveres de animais...

Ontem, Mãe Divina, corixos - estradas de água - hoje, caminhos que levam e trazem maquinários, que destroem tudo em volta...

Ontem: mar, a perder de vista, de: piúvas, cumbarus, marmeladas bola, pequizeiros, jacarandás, jatobás, mangabeiras, lixeiras, aroeiras, figueiras, paineiras, angicos, sarãs, hoje: deserto imenso de soja, que vira óleo, que vira exportação, que vira euro, que vira dólar, que vira renda (prá muito pouca gente) ...

Ontem: pantaneiro, gente respeitada, que vivia e sobrevivia da água e da terra, que criava suas filhas e filhos, que tinha autonomia para escrever a própria história de vida, hoje é só mais um peão, um empregado, um bóia fria, um ser descartável...

Hoje, Nossa Senhora, há escravidão branca: ser gado é bem melhor do que ser peão. Gado tem tratador, recebe massagem, banho, ouve música no curral, alimenta-se o tempo todo, porque dá carne, porque dá lucro, porque dá renda (prá muito pouca gente) ...

Maria dos Pantaneiros, Maria das Parideiras, Maria dos Peões, Maria das Benzedeiras, Maria das Parteiras, Maria das Marias, Maria dos Josés, Maria das Goiabeiras, Maria das Mangueiras, Maria das Piúvas, Maria dos Cumbarus, Maria das Coroas de Frades, Maria das Marmeladas Bola, Maria das Mangabeiras, Maria dos Assa Peixes, Maria das Flores dos Cajueiros, Maria dos Beija Flores, Maria dos Tuiuiús, Maria dos Assanhaços, Maria dos Bacuraus, Maria dos Bem Te Vis, Maria das Ariranhas, Maria dos Jacarés, Maria dos Quatis, Maria dos Tatus, Maria dos escravos do agronegócio: Abençoai-nos, Nossa Senhora do Pantanal,

Nossa Mãe...


14/11/2020

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